sábado, 19 de junho de 2010

Quando a coisa nem sempre é a coisa...


12 de Junho é o aniversário de Adelina Eurídice de Vasconcelos. Este ano ele fez 20 anos. Por sorte ou azar nasceu num dia importante, o dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Festejou o aniversário como quis, com os amigos e ganhou muitos presentes (incluindo o meu) contou-me a mãe dela. 
Depois de ler as habituais notícias sobre a data com números assustadores na última semana viajei no tempo e lembrei-me que ela não foi devidamente "explorada" pelos pais quanto as pessoas da idade dela que vivem em Moçambique.
Não teve de ir comprar pão diariamente, de ajudar nas limpezas de casa,
cozinhar e nem de ajudar os pais nos negócios extras para ajudar no sustento da família. Como se diz na minha terra “teve sorte”... E eu diria nalguns momentos “teve azar”...
Organizações de defesa da criança e OIT esforçadamente lutam para por termo a exploração de mão de obra infantil e em paralelo consciencializam o mundo com os seus relatórios e estudos sem fim sobre a situação. Li informações como estas: “...ao nível mundial, mais de 200 milhões de crianças, com idades compreendidas entre cinco e dezassete anos, estão envolvidas no trabalho infantil, sendo aproximadamente 26 por cento desse número no continente africano.”
Essas organizações reconhecem que o trabalho infantil está associado, para além do lado económico, a razões culturais e sociais.
Ora, havendo o RECONHECIMENTO da existência desses factores até onde o assunto é relativizado? Há exagero ou não? De quem é a criação do conceito? Há alguma tentaiva de alcance de um meio termo sobre o conceito entre quem define os padrões de exploração infantil e as sociedades que “enfermam” desse mal? São questões que tomam de assalto a minha cabeça sempre que tenho de falar sobre o assunto. Pergunto-me ainda o que é afinal trabalho infantil? Quando se considera que uma criança está a ser explorada? Quem deve definir o que é trabalho infantil? 
Como moçambicana considero “normal” e “justo” que todos os membros de uma família contribuam para o seu próprio bem estar. E quando ela é pobre as obrigações dos seus membros se tornam maiores. Os mais velhos com maiores responsabilidades, claro. 
Mas qual é o mal de uma criança de 12 anos vender água a porta de casa a tarde depois de ter ido a escola de manhã? Ou de ir buscar água a fontenária ou de cuidar dos seus irmãos mais novos? 
E me pergunto mais uma vez: fará este grupo parte dos 200 milhões de crianças exploradas que constam de mais um relatório?
Se sim, então solidariedade, inter-ajuda e humanismo são exploração considerando este modelo. Mas no modelo da sociedade onde nasci a isto se chama sobrevivência e também AMOR...
E aposto que alguns dos que escrevem estes relatórios calçam sapatilhas de uma grande marca internacional produzidas por uma empresa asiática que se aproveita da mão de obra infantil...

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