terça-feira, 24 de agosto de 2010

Moçambique: desvalorização do metical e "dolarização" da economia

A vida ficou muito mais cara em Moçambique nas últimas semanas. O metical, a moeda local, vive uma forte desvalorização porque escasseiam as divisas a nível interno. E como a economia é dependente de divisas, a população está num aperto. A par disso e também como resultado, surgem alguns focos de tensão social, como por exemplo a ameaça de manifestações por parte de desmobilizados de gurra e proibição de cobrança de propinas em divisas e o encarecimento do combustível. Nádia Issufo entrevistou Lourenço Venissa sobre o assunto...

Nádia Issufo: A que originou está a originar esta situação?
Lourenço Venissa: As causas são multiplas. Estamos a enfrentar uma espécie de sequelas da crise mundial por causa da persistência dos países importadores em não reagir a situação da crise e o resultado é que estamos a ter poucas reservas internacionais. Os doadores também estão a dar pouca assistência a Moçambque porque também enfrentam a crise financeira. É isso que tem estado a pressionar o metical, mas também pode ser por causa dos subsídios ao combustível, que custaram caro ao Estado, porque neste momento já escasseiam as reservas porque o país financiou as companhias de combustível e esta situação já não é sustentável. E pode ser que a tendência se mantenha nos próximos dois ou três meses.

NI: Vive-se em Moçambique algumas situações criticas. Por exemplo, estudantes exigiram a cobrança de propinas em meticais, e na sequência disso o governo decretou a proibição de cobrança em divisas. Os desmobilizados de guerra exigem melhores pensões... Acredita que esta tensão poderá desencadear algum tipo de revolta ou manifestação por causa do agravamento do nível de vida?
LV: Não é a primeira vez que vivemos momentos destes, são situações ciclícas em que há uma desvalorização do metical, mas como agora não. Esta situação parace ser intensa por causa da "dolarização" da economia. No caso das propinas, que são custos educação, que não são uma mercadoria transacionável, que não pode ser exportável, isso não faz sentido.

NI: Mas acredita na ocorrência de algum tipo de manifestação?
LV: Bom, alguns estudantes já começaram a manifestar-se, mas a grande repercurssão e que é preocupante é que nós dependemos muito das importações de produtos alimentares da África do Sul que também enfrenta um aumento muito grande do custo de vida. Mas não acredito que haja alguma manifestação. Mas que vai haver um a pressão para a concertação social para o ano, nisso eu acredito. O sindicato tem estado a trabalhar nessa concertação social e eles ainda tem um controle das manifestações, por enquanto...

Sem comentários:

Enviar um comentário