sexta-feira, 16 de setembro de 2011

As fragilidades da indústria moçambicana

A política industrial em Moçambique é fraca, conclui uma pesquisa levada a cabo pelo Instituto alemão para política de desenvolvimento, DIE. Intitulado "Política industrial em Moçambique", o estudo aponta fraquezas e lacunas, por exemplo, em relação ao papel dos doadores e a intervenção de gente ligada ao poder político no sector. Um dos pesquisadores que participou do estudo em pareceria com o DIE, Friedrich Kaufmann, falou a DW sobre o assunto, numa entrevista conduzida por Nádia Issufo: 

Nádia Issufo: Na vossa opinião como devia ser a relação entre as grandes e médias e pequenas empresas na passagem de conhecimento e criação de oportunidades para as pequenas empresas?

Friedrich Kaufmann: A relação devia ser mais próxima e directa, o que significa que as pequenas empresas devem formar um grupo de empresas que podem servir e cooperar com grandes empresas porque um dos maiores clientes mais interessantes para as pequenas e médias empresas são multinacionais e grandes empresas, sabemos da experiência da Alemanha que uma pequena e média empresa não é capaz de exportar, não pode crescer muito se não pode utilizar o poder e acesso ao mercado.

NI: No caso da Mozal, houve pelo menos uma tentativa de criação de pequenas e médias empresas ao redor do mega-projecto....
FK: O caso da Mozal é interessante e importante a sua experiência, neste caso podemos dizer que é melhor que nada, mas começou tarde demais dada a fraca capacidade das empesas moçambicanas. Uma boa parte das empreas que aproveitaram os programas de assistência técnica são empresas da África do Sul, sucursais de empresas estrangeiras, o que não é mau, mas nos próximos mega-projectos como o carvão de Tete, Sasol e outros, as empresas moçambicanos devem ser incluidas desde o início da planificação dos grandes invstimentos.

NI: E como o governo moçambicano deve intervir neste relacionamento entre as grandes e pequenas empresas?
FK: Todas as grandes empresas tem que preparar o investimento com o governo, naturalmente que o governo e as instituições relativas a este processo tem conhecimento. Então, o CPI, Centro de Promoção de Investimentos, e o ministério da indústria e comércio devem fazer a ligação com as pequenas e médias empresas. E isso deve ser feito através de associações do empresariado moçambicano como o  CTA por exemplo, e também existe no país desde o ano passado o IPME, Instituto de Pequenas e Médias Empresas, que é o órgão competente para tratar destes assuntos e coordenar actividades e coordenadar a capacitação de pequenas e médias empresas que partcipam neste jogo com grandes empresas.

NI: O sector do cajú nunca mais viveu bons momentos desde o tempo colonial. O que fragilizou na verdade este sector?
FK: Este é um tema muito complexo, há muitos anos que existem várias iniciativas para reactivar o sector. Houve vários factores como as árvores já envelhecidas que nunca mereceram cuidados. O outro ponto essencial é que a política do Banco Mundial destruiu muito o processamento do sector do cajú, o marketing do produto também é fraco. Tudo isso junto aliado a fraca infraestrutura no norte do país e a falta de formação dos trabalhadores, também se falou muito em roubos de cajú por parte dos trabalhadores e de outras pessoas, o que enfraqueceu o sector. Trabalha-se neste assunto e há algum progresso, mas é um caminho longo, sobretudo com a concorrência e competência de outros países como a Índia e Paquistão, que são muito fortes, Moçambique perdeu a sua posição cimeira no mercado internacional.

NI: Em que medida o sector industrial foi afectado por interesses políticos dos doadores?
FK: Na minha opinião os doadores não tem uma política económica para Moçambique, existem muitos grupos de trabalho dos doadores, como por exemplo na saúde, educação e infraestrutura, mas não existe no apoio ao orçamento um grupo focal para o desenvolvimento do sector privado, e esta é uma área intersectorial muito complexa. Se não existe uma política clara, existe uma filosofia neo-liberal, de melhorar as condições no geral, mas não existe um apolítica industrial, como por exemplo na Ásia. Assim, os doadores até agora tem poucas ideias e pouca influência.

NI: Relativamente a privatização de empresas estatais por parte de gente ligada ao partido no poder, a Frelimo, até que ponto os conflitos de interesses são nocivos a um preogresso na indústria?
FK: É complicada falar objectivamnte sobre isso, um político não tem de ser necessariamente um bom empresário, então a privatização de empresas com novos donos da elite política pode tornar-se um ponto negativo. Outra ponto critico é que o empresário político sabe utilizar as ligações que tem com Estado, tem um acesso preferido a projectos, então isso pode vir a tornar-se uma concorreência ilegal. Actualmente não sei qual é a percentagem moçambicana de empresários que está ligada ou não a política, mas há um claro conflito  de interesses. Se gente no poder Executivo tem interesses económicos pode desviar um pouco decisões que devem ser para a população e seu bem estar, e esse é um claro conflito de interesses que não gostamos de ver.

NI: Concluindo, pode se dizer, em relação a política industriual, que ela é incipeinte ou que não existe?
FK: É fraca, não existe ou é muito pontual. Em muitos sectores as estratégias não são coordenadas, não há uma visão geral, também não há dinheiro para implementação de estratégias, geralmente no país as estratégias existem apenas no papel, as vezes boas estratégias, mas falta capacidade institucional de implementação. Então, assim não se pode falar de uma estratégia industrial.

NI: Na sua óptica, que medidas Moçambique tem que tomar para ter uma política industrial sólida e sustentável?
FK: Confome a nova filosofia que se chama "Washington consesus", e agora chamamos "Beijing consensus", que é uma boa mistura inteligente entre intervenções do Estado, com base em vantagens comparativas de um país, e Moçambique tem vantagens comparativas, e condições gerias favoráveis para o sector privado. Então, Moçambique tem de reduzir mais a burocracia e a corrupção, e por outro lado tem de focalizar os recursos que tem numa estratégia inteligente para criar condições para educação e infraestruturas, sobretudo, para sectores onde eles tem vantagens comparativas positivas.

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