quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A marcha-atrás da União Africana

A União Africana cedeu e reconheceu nesta segunda-feira o Conselho Nacional de Transição, o órgão político dos rebeldes, como legítmo representante do povo líbio. Esta decisão acontece depois de um forte finca pé do órgão africano. Eu, através da Deutsche Welle, entrevistei o analista do Instituto Superior de Relações Internacionais em Moçambique, Inácio Noa, sobre esta reviravolta da União Africana.
 
Deutsche Welle: O que terá originado esta súbita mudança de posição da União Africana?
Noa Inácio: Sempre disse que estávamos perante uma organização que não tinha nenhuma orientação clara, nem consenso alargado. Só para exemplificar, mesmo no comunicado para a orientação da aceitação do Conselho Nacional de Transição, CNT, não se veicula fortemente  a opinião da União Africana, mas sim do seu presidente, o que deixa a ideia de que há um grupo de pessoas dentro do conjunto que personifica o movimento da União Africana que está por trás dessa aceitação. Penso que por ai estamos perante uma decisão fragilizada, não se trata de uma decisão consensual, nem muito fortificada e nem a decisão de um bloco, parece-me mais uma decisão forçada de fora para dentro do que de dentro para fora.
DW:   Este encontro recente entre a África do Sul e a União Europeia influenciou na mudança de decisão?
NI: Não acredito que a União Europeia tenha ido buscar consenso junto da África do Sul, mas sim terá negociado ou forçado a África do Sul a colocar-se numa situação inquestionável, ou seja, não havia mais nada a fazer. A África do Sul estava numa situação em que muitos países próximos da Líbia já tinham reconhecido o CNT.
DW: Face a esta situação pode se considerar a União Africana um órgão credível?
NI: Não gosto de usar o termo credibilidade ou falta de credibilidade, prefiro chamar instituições fortes ou fracas. Ou seja, as instituições tornam-se fortes ao longo do tempo e com as decisões que tomam, e o suporte das decisões arrojadas que tomam. A União Africana só mostrou o seu sinal agora com esta decisão, mas desde o início da intervenção da NATO,  a Organização do Tratado do Atlântico Norte, que fez o que fez, a União Africana sempre esteve impávida. Até hoje, apesar da decisão que tomou, ainda não reúne consenso sobre isso, nem pela discussão e nem pelo interesse.  Temos de reconhecer que estamos a caminho da construção de instituições fortes,  o que levará muito, muito tempo.
DW: Em todo o continente africano,  a única organização regional que se recusa a reconhecer o CNT é a SADC, enquanto muitos países da África Ocidental não demoraram a fazê-lo. Terá isso um significado particular?
NI: Sabe que na SADC,  a Comunidade de Países da África Austral,  os movimentos da linha de frente são bastante consolidados, a interligação entre os movimentos e as lideranças são bastante consolidados e tem uma correlação de forças bastante forte, e este espírito extravasa quando eles avançam para olhar as coisas de líderes que vem da mesma geração, ou seja, aqui a permanência do status quo é bastante forte.  A SADC é uma região que é nalgum momento é intangível do ponto de vista de absorção de fatores externos, é uma região forte tradicionalmente, com uma linha de frente que ainda se faz sentir até hoje, e com algum caráter particular.

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