segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A África do Sul será o novo Zimbabué da SADC?

Para além da luta pelo poder no seio do ANC e na África do Sul, outro tema polémico que se discute na 53º Congresso do partido no poder é a nacionalização de algumas riquezas. Se este não era um tema tão importante para o partido, então passou a ser a partir do momento em que o descontentamento social rebentou e manchou a imagem do ANC.

As manifestações por melhores salários nas minas e a resposta violenta da polícia fizeram o partido trepidar este ano. O governo ainda tentou sair-se bem se fazendo de vitima, mas se esqueceu que acenava com as mãos ensaguentadas. Mas Julius Malema foi a primeira bomba que o ANC, evidenciando a sua força, dominou pelo menos por enquanto. Recorde-se que o líder juvenil do partido, apesar dos seus metódos pouco ortodoxos, lutava pela igualdade social, exigindo uma melhor distribuição de riquezas e nacionalizações.

O ANC, agora preocupado, diz que vai discutir profudamente a questão das nacionalizações, nomaedamente da terra. Retirar dos brancos para dar aos pretos, um ideal para acalmar o povo agora e garantir a manutenção do ANC no poder, mas ao mesmo tempo parece uma faca de dois gumes. O que representa a minoria branca para o país? Dominam os setores que fazem girar a economia, isso apesar da elite política estar a fortificar-se ai.

Existe a comunidade internacional, a mesma que reduziu a pó o maior produtor de cereiais e uma das economias mais prosperas do continente, o Zimbabué. Robert Mugabe, tal como o ANC quer fazer agora, procurou dar uma resposta ao seu povo atribuindo-lhe terras retiradas dos ricos. E pergunto agora, quais são as probablidades da África do Sul vir a ser um Zimbabué? Apesar de terem percursos diferentes, eles tem algumas semelhanças extamente nos pontos críticos. Saberá o ANC gerir bem esta batata quente?



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Despertando fantasmas

Na última segunda-feira Bona, na Alemanha, esteve em alvoroço por causa de uma bomba encontrada na estação de comboio. Embora estando nesta cidade, e a menos de três kilometros do lugar, recebi e processei a notícia como se tratasse de algo que não me diz respeito. A explicação imediata para isso não conseguia encontrar num primeiro momento.

As informações sobre o caso eu ia acompanhando pelo Facebook, nem era pelo órgãos de comunicação. Por volta das 20 horas passo pelo centro da cidade e nem vestígios de medo, pânico, ou de alguma preocupação nas pessoas. Aliás, havia muita gente na rua, para o meu espanto. Muitas delas sorriam, conversavam como as vejo fazer diariamente, mas também é verdade que o vai dentro de cada um ninguém sabe, embora possamos imaginar.

Tudo isso levou-me a fazer uma comparações (já esperada); se fosse na minha terra as ruas estariam desertas, e as poucas pessoas que encontrasse estariam a comentar o assunto do dia. Se isso acontecesse o estranho da rua seria o seu mais próximo para comentar, pelo menos seria o momento para o guarda de um prédio conversar com o doutor conhecido, de igual para igual, como simples seres humanos.

O meu aparente distanciamento do assunto tem uma pequena explicação que só no final do dia se revelou; as lembranças de pânico e medo que vivi durante a minha infância durante a guerra civil em Moçambique. Quando o regime sul-africano do Apartheid bombardeava os arredores de Maputo, ou as suas bombas explodiam eu e os meus colegas fugíamos desesperados da sala de aulas com as cadeiras e carteiras a caírem por cima de nós. Isso para não falar da professora que nessa hora ficava tão desesperada quando nós, que nem lhe reconhecimaos a autoridade e o poder.

Nessa epóca já "aplaquei" debaixo da cama da casa do meu tio que vivia no bairro da Liberdade, com medo das explosões que ouvia. Era difícil dormir.

De um dos prédios altos da Av. 24 de Julho, onde pulava com certa tranquilidade com os meus primos e irmão, via fogo do outro lado da baía, provavelmente depois da Catembe. A guerra estava debaixo do meu nariz, paradoxalmente com o brilho do fogo de artificio que muitos gostam de ver, incluindo eu.

Portanto, o acontecimento de Bona veio provar que me está destinado conviver com explosões. Só que aqui a imprevisibilidade tem peso de 100%