segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Jovens angolanos recarregam baterias para mais manifestações

Em Angola o Movimento Revolucionário diz que não descarta a possibilidade de organizar uma nova manifestação contra o governo, mas garante que tal não será para breve. De acordo com o membro Hugo Calumbo, o momento é de recarregar as baterias. Recorde-se que este grupo organizou uma manifestação no passado dia 22 de dezembro em Luanda para exigir da polícia um esclarecimento sobre o desaparecimento de Isaías Cassule e Álves Kamulingue, em maio do ano passado, durante uma manifestação contra o regime. O resultado da última manifestação foi seis detidos do Movimento e ações violentas da polícia que chegou mesmo a disparar. Numa entrevista a DW África, conduzida por mim, Hugo Calumbo e Coque Mokuta esclarecem algumas coisas:



Hugo Calundo: Ainda não está previsto sairmos à rua assim tão cedo. Há várias informações a circular que dizem que vamos sair às ruas daqui a uns dias, mas isso não é verdade. Saímos da cadeia há poucos dias. Estamos a tentar recuperar física e psicologicamente para depois nos engajarmos nos nossos compromissos.
Não está descartada a possibilidade de voltamos a sair à rua a qualquer momento. Mas ainda não há uma data prevista.

Nádia Issufo: A manifestação, caso seja feita, será legal, tal como a primeira?
HC: Claro que sim. Nós sempre nos pautamos pelo cumprimento da lei. Caso haja uma manifestação, é evidente que nós o vamos anunciar às autoridades competentes, à luz da lei, para que não haja um crime.

NI: Apesar das manifestações e dos apelos da sociedade civil, a polícia nada diz sobre o paradeiro de Isaías Cassule e de Alves Kamulingue. Acha que eles ainda estão vivos?
HC: Eu, pessoalmente, tenho uma opinião diferente e acredito que ainda estão vivos. Falta apenas um pouquinho mais de pressão por parte da sociedade em geral para reivindicar que se faça tudo para se pronunciar sobre o paradeiro dos nossos companheiros. Infelizmente, até agora o medo domina a maior parte do povo angolano e, por isso, não temos conseguido arrancar uma resposta positiva por parte das entidades e do governo.

NI: Apesar das repressões acha que as manifestações trarão os resultados desejados?
HC: Acredito que sim, apesar de vivermo num país onde a lei vigora apenas para os mais fracos. Da mesma forma que os ditadores terminaram o ditador cá em Angola vai terminar. Apesar das dificuldades que vivemos acreditamos que vamos vencer.


Opinião diferente sobre o destino dos dois desaparecidos tem o jornalista e um dos autores do livro “Os Meandros das Manifestações em Angola", Coque Mokuta:

CM: Eu tenho feito investigações sobre os dois jovens constantemente e acredito que já não estão vivos. Agora, cabe às autoridades trazerem novos dados e informações mais concretas sobre o que na verdade lhes terá acontecido.
Os jovens têm parentes que dão alguma explicação sobre isto. Mas se José Eduardo dos Santos é um bom pai, deverá dar explicações aos seus filhos: "eles estão aí, eles morreram por isso, aconteceu isso com eles…"
Entretanto, momentos muito sensíveis, como o período eleitoral, já passaram e não trouxeram qualquer pista. Por isso é que acredito que eles j.


NI: As manifestações em Angola terminam quase sempre da mesma maneira. Ou são abortadas, antes mesmo de começarem, ou há detenções ou repressões. Acha que, ainda assim, elas conseguem atingir os seus objetivos?

CM: Os objetivos das manifestações são, normalmente, muito concretos. É, na verdade, para protestar sobre um determinado assunto. Quando os manifestantes dizem que vão protestar sobre o desaparecimento do Kamulingue e chegam até ao 1º de maio e são reprimidos, acabam por chamar a atenção em relação a isso. Por isso, acho que atingem os seus objetivos.

Agora, é de sublinhar que o movimento vai crescendo. As pessoas vão ficando cada vez mais esclarecidas sobre este fenómeno e a população manifestante vai aumentando. Daqui para a frente, as manifestações serão feitas de forma sectorial. Hoje mesmo, aqui na caixa social das Forças Armadas, os ex-militares voltaram a reclamar os seus direitos. Ou seja, os jovens deram uma luz e assim, de forma sectorial, vão existindo vários movimentos, que, possivelmente, ainda se vão alastrar.

Escute também a entrevista em:
http://www.dw.de/jovens-em-angola-prometem-novas-manifestações/a-16496566

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